terça-feira, 12 de junho de 2007

Minha saga no MercadoLivre.com, parte I

Trabalhei durante 9 meses no atendimento ao usuário do MercadoLivre.com. Isso foi no período jurássico - mais ou menos naquela época em que nasceu meu professor de Legislação e Prática Judiciária.

O MercadoLivre é alvo do ódio de 96,326% dos usuários de internet. E o MercadoLivre é alvo do ódio de 100% usuários do MercadoLivre.

Não são apenas os pop-ups, os banners e toda a publicidade indesejada que tornam essa uma empresa tão popular e querida na rede.

O mantra do real problema com o maior ícone do capitalismo argentino é cantado da seguinte forma:

PRODUTO NÃO RECEBIDO - CALOTE - COBRANÇA INDEVIDA - MERCADOPAGO

Homéricas eram as reclamações. Poucos eram os educados e polidos. Tudo era feito por e-mail.

Tinha aqueles que optavam pelas abreviações. Certa vez recebi uma mensagem contendo apenas o intrigante código "VSFSFPD". Às 9 da manhã de um dia ensolarado, isso não parece muito ofensivo. No entanto, após alguns minutos de trabalho criptológico, o significado da singela cifragem veio à tona: VSFSFDP = "Vá Se Foder, Seu Filho Da Puta". Mamãe nunca soube desse caso.

Havia também os usuários celebridades. Após certo período de utilização do site e determinado valor em compras, solicitava-se uma verificação cadastral. O sujeito deveria enviar por fax (alguém ainda usa isso?) cópia dos documentos pessoais, comprovante de renda, exame médico, laudo toxicológico e atestado de sanidade mental. Um dia, surge na máquina a foto de um famosíssimo ator global. Histeria entre a mulherada. Tocar no... err... documento do rapaz era quase como passar uma noite na cama dele.

Atendentes do setor de cobranças, como eu, eram escoltados no trajeto casa/trabalho/faculdade por seguranças argentinos armados de desculpas esfarrapadas. Expectativa de vida comparável à de uma drag queen numa reunião dos Carecas do ABC.

Alguns usuários mais pró-ativos descobriam o endereço físico da empresa e montavam tocaias na saída do edifício. "Adoradores do Diabo!". "Traidores da pátria!". "Filhos de uma mãe argentina!". As ofensas eram terríveis. Nessas ocasiões entravam novamente em ação os seguranças hermanos. Com suas rajadas de desculpas esfarrapadas eles mandavam todos para o limbo da net.

O funcionário mais ocupado da empresa era o advogado. Sim, O advogado, singular e masculino. Um único sujeito para dar conta de mais ou menos 45203485 milhões de ações judiciais. Trabalhinho sussa. Conhecia as cortes do país inteiro. Imaginem só... quase não viajava.

O setor de tecnologia também era composto por apenas uma pessoa. Alterações no site brasileiro precisavam invariavelmente passar pela aprovação da COLA, Comissão de Oompa-Lumpas Argentinos - os controladores e sócio-proprietários da empresa. No Brasil, os simpáticos anões eram representados por um carioca de nome engraçado, também conhecido como "o presidente", e que a cada seis meses pagava um lanche para todos os funcionários no restaurante vegetariano mais próximo.

Não tenho mais tempo para escrever agora. Continua amanhã. Tchau!

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